Publicamos a seguir as palavras que o Santo
Padre Bento XVI dirigiu aos fiéis reunidos em Castel Gandolfo na oração do
tradicional Ângelus.
Queridos irmãos e irmãs!
No nosso caminho pelo Evangelho de Marcos,
domingo passado, entramos na segunda parte, ou seja, na última viagem para
Jerusalém e para o climax da missão de Jesus. Depois de que Pedro, em nome dos
discípulos, professou a fé Nele reconhecendo-o como o Messias (cfr. Mc 8, 29),
Jesus começou a falar abertamente sobre o que lhe acontecerá no final. O
Evangelista narra três sucessivas predições da morte e ressurreição, nos
capítulos 8, 9 e 10: nesses Jesus anuncia de modo cada vez mais claro o destino
que o aguarda e a sua intrínseca necessidade. A passagem desse domingo contêm o
segundo destes anúncios.
Jesus diz: “O Filho do homem – expressão com a
qual se auto denomina – será entregue nas mãos dos homens e o matarão; mas, uma
vez morto, depois de três dias ressuscitará” (Marcos 9, 31). Os discípulos
“porém não entendiam estas palavras e tinham medo de interrogá-lo” (v. 32).
Na verdade, lendo esta parte da narração de
Marcos, fica evidente que entre Jesus e os discípulos há uma profunda distância
interior; encontram-se, por assim dizer, em dois patamares diversos, de tal
forma que os discursos do Mestre não são compreendidos, ou o são somente
superficialmente. O apóstolo Pedro, logo após ter manifestado a sua fé em
Jesus, se permite corrigi-lo porque tinha previsto a rejeição e a morte. Depois
do segundo anúncio da paixão, os discípulos começam a discutir entre eles quem
era o maior (cfr. Mc 9, 34); e depois do terceiro, Tiago e João pedem a Jesus
para poder sentar à sua direita e à sua esquerda, quando estiver na glória
(cfr. Mc 10, 35-40). Mas existem vários outros sinais desta distância: por
exemplo, os discípulos não conseguem curar um menino epiléptico, que em
seguida, Jesus cura com o poder da oração (cf. Mc 9,14-29); ou quando
apresentam para Jesus crianças, os discípulos as censuram, e Jesus ao
contrário, indignado, diz para eles permanecerem e afirma que somente quem é
como eles pode entrar no Reino de Deus (cfr. Mc 10,13-16).
O que tudo isso nos diz? Nos lembra que a lógica
de Deus é sempre "outra" com relação à nossa, como revelou Deus mesmo
por boca do profeta Isaías: "Os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, /os vossos caminhos não são os meus caminhos" (Is 55, 8). Por
isso, seguir o Senhor requer sempre do homem uma profunda conversão, uma
mudança no modo de pensar e de viver, requer abrir o coração à escuta para
deixar-se iluminar e transformar interiormente. Um ponto-chave em que Deus e o
homem se diferenciam é o orgulho: em Deus não há orgulho, porque Ele é total
plenitude e é completamente voltado para amar e doar a vida; em nós homens, no
entanto, o orgulho está profundamente enraizado e requer constante vigilância e
purificação. Nós, que somos pequenos, desejamos ser grandes, ser os primeiros,
enquanto que Deus não teme abaixar-se e fazer-se o último. A Virgem Maria está
perfeitamente “sintonizada” com Deus: invoquemo-la com confiança, para que nos
ensine a seguir fielmente a Jesus no caminho do amor e da humildade.
Fonte: RCC Brasil