domingo, 27 de julho de 2014

O jugo suave é a lei do amor

altNos difíceis anos da segunda Guerra Mundial, as forças ideológicas em conflito se confrontaram de várias formas com a presença dos cristãos, muitos deles inclusive comprometidos com as diversas facções, suscitando depois a análise e o julgamento dos historiadores e muitos críticos, nas décadas que se sucederam. Entretanto, o século XX foi um tempo de martírio, quando cristãos de várias confissões, católicos, evangélicos e ortodoxos derramaram seu sangue por causa do Evangelho, em defesa da verdade e da dignidade da pessoa humana. Foi também um período de grande profusão de homens e mulheres que confessaram a fé, tornaram-se batalhadores com a palavra e os gestos, gerando um santo orgulho para as gerações que se sucederam, inclusive a nossa. Mais ainda, a candura da virgindade, a coragem da castidade de pessoas que foram contra a correnteza da busca desenfreada de prazer que se espalhou pelo mundo, também esta forma de vida cristã se fez presente. Disseram também o seu sim ao Senhor muitos homens e mulheres suscitados pelo Espírito Santo para fundar famílias religiosas, obras sociais, iniciativas de serviços aos mais pobres e Movimentos.
As grandes chagas do tempo, como as drogas, as enfermidades surgidas recentemente, as novas formas de pobreza e miséria, a situação dos prófugos dos países em guerra, as catástrofes naturais, todas foram situações em que cristãos se lançaram a dar alguma resposta. Mártires, Confessores, Virgens, Fundadores e Fundadoras, Agentes sociais, grandes pregadores do Evangelho. Eis a riqueza da Igreja de nosso tempo! Não somos os detentores exclusivos do bem a ser feito, mas temos oferecido nossa contribuição por um mundo mais justo e fraterno.
No dia seis de julho a Igreja celebra Santa Maria Goretti, uma jovem italiana morta aos doze anos, em 1902, pela decisão de manter a castidade. Pio XII, por ocasião de sua canonização, pronunciou palavras de grande sabedoria: "Nem todos somos chamados a sofrer o martírio; mas todos somos chamados a praticar as virtudes cristãs. A virtude, porém, requer energia; mesmo sem atingir as alturas da fortaleza desta angélica menina, nem por isso obriga menos a um cuidado contínuo e muito atento, que deve ser sempre mantido por nós até o fim da vida. Por isso, semelhante esforço, bem pode ser considerado um martírio lento e constante. A isto nos convidam as palavras de Jesus Cristo: 'O reino dos céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam' (Mt 11,12). Esforcemo-nos todos por alcançar este objetivo, confiados na graça do céu. Sirva-nos de estímulo a santa virgem e mártir Maria Goretti. Que ela, da mansão celeste, onde goza da felicidade eterna, interceda por nós junto ao divino Redentor, a fim de que todos, nas condições de vida que são as nossas, sigamos os seus gloriosos passos com generosidade, vontade firme e obras de virtude" (Homilia da canonização de Santa Maria Goretti, em 1950). Sim, a Igreja tem a oferecer crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres que querem viver como bons cristãos.
Consta que uma grande autoridade da então "Cortina de Ferro", aconselhada a tolerar o catolicismo naquela região, fez uma pergunta sarcástica: "Mas quantas divisões militares tem o papa?" Todas as vezes em que o poder temporal e o religioso se aliaram ingênua ou maldosamente, os resultados foram os piores possíveis. Quando os cristãos revestidos de algum poder se comprometeram com as armas ou com a corrupção, mancharam a beleza da aquela que é Esposa de Cristo. Com o tempo, a graça de Deus lhes concede o dom do arrependimento e a força para recomeçarem o caminho. Não é tarefa da Igreja ter divisões militares, mas arregimentar homens e mulheres que acreditem na força da fraqueza, percorrendo a estrada do serviço e da humildade, mesmo quando as circunstâncias os colocarem em postos altos da política e da administração pública ou em suas atividades profissionais. Estarão então "na corda bamba", desafiados a manter a fidelidade aos princípios evangélicos, fermentando a sociedade.
Efetivamente, desde os primórdios da Igreja multiplicaram-se os desafios, começando pelas próprias fraquezas dos cristãos. As perseguições foram inúmeras, as dificuldades imensas. No entanto, os cristãos aprenderam a acreditar nos meios pobres e no anúncio do Evangelho aos mais simples e desprezados, quanto aos recursos materiais e quanto às condições humanas e espirituais. Cabe-lhes ir ao encontro dos mais sofredores e dos pecadores.
Nosso Senhor, ao oferecer instruções aos discípulos, percorrendo diversas cidades da Galileia (Cf. Mt 11,12), os conduz a entender os valores do Reino de Deus. Ele é interrogado sobre a missão de João Batista, manda ao mesmo João um recado, indicando os sinais do Messias: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova" (Mt 11, 4-5). O mesmo João Batista, preso, quase para ser degolado, é elogiado por Jesus como o maior dentre os nascidos de mulher (Cf. Mt 11, 11). Seus discípulos, ouvindo-o recriminar algumas cidades que recusaram a ocasião oferecida para se arrependerem, certamente ficavam confusos. Até hoje é assim! Poder, dinheiro, influência, tudo atrai terrivelmente!
E o Senhor, diante da arrogância corrente em todos os tempos, exalta o humilde e o simples. Impressiona a efusão espiritual de Jesus (Cf. Mt 11, 25-30), testemunhando a predileção do Pai pelos pequeninos. As portas do Reino de Deus continuam abertas. Venham a ele os que estão cansados e sobrecarregados, os estropiados pela vida ou pelos próprios pecados. Venham os que não vivem satisfeitos com seus próprios preconceitos. Sejam bem vindos os que desejam fazer a estrada da simplicidade de coração. Não se intimidem aquelas pessoas que querem, malgrado todas as propagandas contrárias, ser parecidas com uma Santa Maria Goretti, ou quem sabe abraçar uma vida semelhante à Beata Madre Teresa de Calcutá, ou a coragem de Santa Gianna Beretta Molla na defesa da vida. Se lhes parecerem distantes destas figuras, olhem para as legiões de homens e mulheres sem armas, aí bem perto, em sua Paróquia, que testemunham Jesus Cristo e seu Evangelho.
Entretanto, para que ninguém fique enganado, há uma condição, tomar o jugo suave de Jesus, aprendendo dele, que é manso e humilde de coração. O jugo suave é a lei do amor. Comparado com as cargas impostas pelos fariseus, este jugo liberta e salva. Trata-se de seguir Jesus, abraçar a cruz, tornar-se discípulo e missionário do Reino de Deus. Passe o mundo transitório, permaneça o Reino de Deus, que fermenta com vida e santidade todas as gerações.

 
“A Força da Fraqueza”
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
 

Rede Nacional de Intercessão Julho - A visão espiritual na intercessão profética

altVisão espiritual é a capacidade de ver claramente o que Deus quer que vejamos, enxergando o mundo sob o ponto de vista dEle. É a capacidade que adquirimos, através da intimidade com Deus, em discernir entre os muitos apelos interiores da nossa alma e a voz do Espírito Santo que nos revela as coisas de Deus que ignoramos para que possamos exercer a intercessão profética, conforme nos ensina o livro do profeta Jeremias: “invoca-me, e te responderei, revelando-te grandes coisas misteriosas que ignoras” (Jr. 33,3).
O intercessor que vê o mundo através dos olhos espirituais tem a sensibilidade mais aguçada. Ele consegue perceber com mais transparência as oportunidades do presente e visualizar com clareza as tendências do futuro.  Esta graça do Espírito é vital para que o intercessor alcance a dimensão profética da intercessão. É algo de que necessitamos urgentemente, pois este mundo material está imerso no mundo espiritual.
O Reino de Deus e o reino das trevas estão estabelecidos aí. Habitamos no Reino de Deus quando estamos em Jesus; quando fazemos dEle o Senhor e Salvador de nossa vida; quando nos submetemos à Sua vontade. Portanto, é fundamental obtermos a visão e o discernimento de cada manifestação espiritual que se apresenta diante de nossos olhos; sabermos quem realmente gerou e motivou uma ação ou palavra, e que frutos colheremos; procurarmos discernir o que vem de Deus, o que é humano e o que é demoníaco.
No segundo livro dos Reis, encontramos um fato que pode nos ajudar a compreender esta necessidade. Quando o Rei da Síria cerca a cidade de Dotã com seu exército para prender Eliseu, ele não se abala, porque vê ao redor do exército inimigo um exército ainda maior que o Senhor já havia enviado para salvá-lo. Porém, o mesmo não acontece com o seu servo, que se apavorou, porque não tinha a capacidade de ver com olhos espirituais como tinha Eliseu.
"Na manhã seguinte, o homem de Deus, saindo fora, viu o exército que cercava a cidade com cavalos e carros. Seu servo disse-lhe: Ai, meu senhor! Que vamos fazer agora? Não temas, respondeu Eliseu; os que estão conosco são mais numerosos do que os que estão com eles.Orou Eliseu e disse: Senhor, abri-lhe os olhos, para que veja. O Senhor abriu os olhos do servo, e este viu o monte cheio de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu" (II Reis 6,15-17).
Somente após Eliseu orar pelo seu servo, pedindo a Deus que lhe concedesse a capacidade da visão espiritual é que ele pode ver o que Eliseu já havia constatado e foi a visão espiritual de Eliseu que fez a diferença no desenrolar desta história que termina com a sua vitória sobre o exército Sírio.
Esta história nos ensina hoje que o Senhor sempre disponibilizará um meio para nos salvar quando nos encontrarmos em alguma situação de perigo, no entanto, para que este meio disponibilizado por Deus seja realmente eficaz na nossa vida, é imprescindível que o vejamos com os nossos olhos espirituais. E é esta a diferença entre o êxito e o fracasso na nossa intercessão.
Quando meus olhos estão postos em Deus a minha visão espiritual é aberta e terei o verdadeiro entendimento. “Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram” (Jó. 42,5);  “Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém, me tornareis a ver, porque eu vivo e vós vivereis” (Jo. 14,19).
No entanto, muitas coisas em nossa vida podem colaborar para nos impedir de ver com os olhos do Espírito ao ponto de nos tornar cegos para as realidades espirituais que estão em nossa volta. Nossa visão espiritual pode tornar-se obscurecida, de maneira que o modo como olhamos para as coisas em nossa vida diária fica distorcido. E quando isso acontece vivemos com medo e ansiedade; preocupamo-nos com coisas materiais; a nossa fé e a nossa esperança são abaladas de tal forma que já não conseguimos ver as vitórias de Deus em nossa vida e em nossa missão. Estes bloqueios que impedem a visão espiritual normalmente estão relacionados com as atitudes pecaminosas que livremente praticamos no nosso dia-a-dia. Neste sentido é importante identificar os principais bloqueios da visão espiritual:
a) O Pecado
O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como "uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna". (CIC 1849).
O pecado, segundo São Paulo, gera a morte (Rm 6,23) e, se já estamos mortos não podemos ver nada. Todo pecado que comentemos nos cega e nos afasta de Deus. 
b) Incredulidade
A incredulidade é não crer que Deus possa realizar prodígios e milagres na nossa vida. É limitar o poder que Deus tem para nos libertar e salvar. Quando nos deixamos vencer por este mal nos fechamos para as possibilidades de salvação que Deus nos disponibiliza e já não temos a coragem de enfrentar o mal e acabamos sucumbindo às suas investidas.
c) Inconstância na vida de oração
A oração é o combustível para a nossa vida espiritual é essencial para a nossa intimidade com o Senhor. Se não nos relacionamos com o Senhor como com um amigo, não teremos a abertura espiritual para adquirirmos a capacidade de ver. Quando oramos constantemente e com disciplina, vamos adquirindo a força de Deus e os nossos olhos vão, gradativamente, se abrindo para as realidades espirituais, pois é só ao homem de Deus que é dada a capacidade de ver.
d) Desconhecimento da Palavra de Deus
A Palavra de Deus é fonte de todo o conhecimento e de toda a verdade. Jesus nos disse que se conhecermos a verdade, ela nos livrará. É através da leitura e do estudo da Palavra de Deus que as verdades de Deus se revelarão para nós. A Palavra de Deus é fonte de toda a revelação e um sólido alimento espiritual.
e) Falta de empenho e de comunhão
Todos nós que amamos a Deus devemos ter o empenho em busca-lo a fim de conhecê-Lo para que possamos ser íntimos dEle. Quanto mais nos esforçarmos para conhecer o Senhor, mais Ele se aproximará de nós para nos curar e nos tornar aptos para convivermos em comunhão uns com outros.
Peçamos a Deus a cura dos nossos olhos espirituais e a remoção de tudo o que interfere em nossa visão. Com uma visão clara e fortalecida pelo Espírito Santo podemos andar de mãos dadas com Deus para alcançarmos vitórias na intercessão.
Deus os abençoe!.

INTENÇÕES PARA ESTE MÊS
1.    Para que cesse a violência no Brasil e no mundo.
2.    Pelas eleições para deputados, governadores e presidente no Brasil em outubro.
3.    Pela unidade entre todos os membros da RCC do Brasil.
4.    Pelo XXXI Congresso Nacional da RCC, de 17 a 20/07 em Aparecida/SP e pelo Encontro Nacional de Intercessão Profética, de 25 a 28/09 em Aparecida/SP.
5.    Pela Reunião de Oração do seu Grupo de Oração (pelo pregador, dirigente, músicos e demais servos e pelas pessoas que participam da Reunião de Oração).
6.    Pelos Grupos de Oração na sua Diocese, no seu Estado e no Brasil.
7.    Pelos Ministérios da RCC no seu Grupo de Oração, Diocese, Estado e no Brasil.
8.    Pelas necessidades espirituais e financeiras dos escritórios diocesano, estadual e nacional da RCC.
9.    Pelos projetos da RCC na Diocese, no Estado, no Brasil na América Latina e no Mundo.
10.  Pelos eventos de evangelização da RCC no seu Grupo de Oração, na sua Diocese, no seu Estado e no Brasil.
11.  Pela Reunião dos Conselhos Diocesano, Estadual e Nacional neste ano.
12.  Pelas coordenações do seu Grupo de Oração, da RCC na sua Diocese, no seu Estado e no Brasil (Coordenadora Nacional: Katia Roldi Zavaris e sua família).
13.  Pela Santa Igreja, pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pelo seu Bispo diocesano, pelos Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas e pelos Seminaristas.
14.  Pelas casas de missão da RCCBRASIL e pelos missionários e missionárias.
15.  Pela construção da Sede Nacional da RCC do Brasil e pelos seus colaboradores.
16.  Para que todos os membros da RCC do Brasil se abram para a moção da Reconstrução.

Núcleo Nacional do Ministério de Intercessão


FONTE: http://www.rccbrasil.org.br/espiritualidade-e-formacao/index.php/artigos/1256-rede-nacional-de-intercessao-julho-a-visao-espiritual-na-intercessao-profetica

O Tesouro

altQuanto vale um avião derrubado? Quanto valem as armas utilizadas nos inúmeros conflitos em andamento? Quanto valem as tantas vítimas da violência ceifadas a cada minuto pelo mundo afora? A vida é vilipendiada, transformada em mercadoria, transformada em espetáculo. Multiplicam-se as imagens que correm o mundo, nas quais os modernos equipamentos eletrônicos registram e divulgam os assaltos, assassinatos, uso e abuso de drogas e outras cenas diante das quais corremos o grave risco de ficar acostumados e acomodados. Muitas pessoas ficaram estarrecidas com cenas recentemente divulgadas, nas quais se via o tráfico de drogas aberto e sem qualquer controle das autoridades. Mais ainda nos assustamos quando esta gravíssima chaga social pode vir a ser legalizada! Estamos vivendo no olho do furacão de uma mudança de época, na qual os valores são postos em cheque e todos são conduzidos, na boa vontade ou na força, a rever seus critérios e tomar novas decisões. Sem alarmismos, é bom saber que o tempo da decisão agora é nosso.
Há alguns anos difundiu-se uma inspirada canção do Padre Zezinho, chamada “Vocação”. Se a seu tempo foi uma voz profética, continua a ressoar hoje com mais força ainda, provocando decisões e escolhas de valores: “Se ouvires a voz do vento chamando sem cessar, se ouvires a voz do tempo mandando esperar, a decisão é tua, a decisão é tua. São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo. Se ouvires a voz de Deus chamando sem cessar, se ouvires a voz do mundo querendo te enganar, a decisão é tua, a decisão é tua. São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo. O trigo já se perdeu, cresceu, ninguém colheu, e o mundo passando fome, passando fome de Deus. A decisão é tua, a decisão é tua. São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo!”.
Consideradas as devidas proporções, todas as diversas eras na história da humanidade se envolveram em grandes crises. Muitos regimes caíram, não apenas pelas circunstâncias políticas ou econômicas, mas corroídos por dentro em suas escolhas humanas, com as quais se desgastaram, na corrupção dos costumes. A busca desenfreada das posses e riquezas a qualquer custo, a sede do prazer e a ânsia do poder foram e ainda são os grandes e destruidores ídolos. Do grande e definitivo evento da salvação operada pelo Mistério Pascal da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo para cá, a Igreja tem anunciado o Reino de Deus, que corresponde à grande paixão da pregação do Senhor. Surgem, crescem, consolidam-se e entram em decadência os muitos reinos do mundo e todos eles, sem exceção, confrontados com os valores do Reino de Deus podem ser revistos ou superados.
Onde está o Reino de Deus? Como se manifesta a sua força? O que muitas pessoas chamaram de minorias abraâmicas está presente no meio do mundo. Há muitas pessoas e grupos que acolhem de bom grado a Palavra de Deus. Alguns, no escondimento e no anonimato, usam critérios diferentes, plantam sementes de uma vida familiar sólida, acolhem de bom grado o dom da vida, sem se desfazerem da prole, outros tantos mantêm as mãos limpas e o coração puro (Cf. Sl 14), porque decidiram entrar na Casa do Senhor. Diante da mudança de época, diante das crises e fragilidade das instituições, cada pessoa deverá fazer suas escolhas: “Buscai, pois, o seu Reino, e essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar a vós o Reino. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 32-34).
Jesus compara o Reino a um tesouro escondido num campo (Cf. Mt 13, 44-52). Encontrá-lo é a alegria da vida de um homem. A beleza do encontro e a alegria de ter descoberto o sentido para a existência fazem com que a pessoa abandone tudo o que foi sustento para a sua vida em vista do tesouro maior. Acontece, simplesmente! É presente de Deus, que vem ao encontro da pessoa. Vender tudo o que se possui é atitude corajosa de quem, no meio de tantas possibilidades, escolhe os valores do Reino de Deus, reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de Justiça, de amor e de paz. Ficam para trás todas as mesquinharias que atraíram seu coração e seu olhar, invertem-se suas prioridades, torna-se livre para olhar para frente e para o alto.
Mas o Reino de Deus é também comparado a um comerciante que procura pérolas preciosas. Também este vende tudo para adquirir o que corresponde à sua busca. Numa época em que o “sonho de consumo” é usado e abusado, para que pessoas de todas as idades gastem até o que não têm para realizá-lo, o Evangelho fala de outras riquezas. Dependendo de quanto o discípulo de Cristo foi tocado pelo Reino de Deus, mais se sente seguro e tomará decisões que mudarão o rumo de sua vida.
Encontrar e procurar! Duas atitudes plenamente humanas, correspondentes à riqueza do dom de Deus, que não nos fez para a mediocridade nem para o acomodamento. Fomos criados pelo Senhor para edificar o mundo olhando para o alto, no modelo de vida de Deus, que é Pai e Filho e Espírito Santo. Mirando em Deus, encontraremos também aqui na terra a plenitude da realização e da alegria. Ninguém entende tanto de humanidade quanto o Senhor, pois por Ele fomos criados e nem nos realizaremos, andando inquietos enquanto nosso coração não repousar em seu regaço.
No Evangelho de São Mateus, o magnífico Sermão das Parábolas se encerra com uma consoladora e provocante palavra, precedida da lição sobre a rede lançada no mar da existência, enquanto durar o tempo desse mundo. Até lá, quem se deixa instruir “nas coisas do Reino”, tirará dos tesouros da vida o que existe de melhor, do novo e do velho, exercendo a sabedoria que é dom do próprio Deus. Não terá medo das mudanças e nem se abalará com todas as eventuais convulsões de seu tempo, pois terá escolhido o que existe de melhor, para oferecer à humanidade sua contribuição, seu inigualável tesouro.
É ao Senhor que podemos pedir tantas graças: “Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam”.

 
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL